O Programa de Conservação do Gavião-real (PCGR) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) iniciou suas atividades de pesquisa em 1997 após a descoberta do primeiro ninho de gavião-real Harpia harpyja numa floresta de terra-firme, região próxima a Manaus.
Em 1999, estabeleceram-se metas para ampliar a localização, o mapeamento e o monitoramento de ninhos para estudar a biologia da espécie na Amazônia Brasileira com a participação de voluntários dispostos a enfrentar o desafio de conservar esta espécie. Hoje o projeto conta com o apoio de pesquisadores parceiros, voluntários, estudantes e bolsistas na coleta de dados, atividades de educação ambiental e divulgação de informações no entorno de ninhos. Monitoramos 60 ninhos de gavião-real nos estados do Amazonas, Pará, Rondônia e outros cinco ninhos no Pantanal e na Mata Atlântica. Estabelecer um Programa Nacional de Conservação da espécie somente foi possível com a parceria de várias instituições Federais, Estaduais e privadas, Ongs internacionais, nacionais e regionais, além do poder público municipal.
A participação ativa de comunidades que habitam a floresta no entorno das árvores com ninhos de gavião-real são também a razão do sucesso na localização de novos ninhos, na coleta de dados sobre a espécie, por exemplo coletando vestígios de presas para descrever a dieta da espécie, e monitorando a sobrevivência dos filhotes até serem capazes de voar para longeda área onde nasceram e estabelecer sua própria área de nidificação. Enquanto as pesquisas utilizando a telemetria convencional e satélite, iniciados em 2004 e 2007, respectivamente, favoreceram o conhecimento do deslocamento local e regional do gavião-real, os estudos genéticos, iniciados em 2005 ampliaram para o Brasil, as coletas de dados para as diversas regiões de ocorrência histórica e atual da espécie.
A convivência pacífica entre os comunitários e os animais da floresta é possível à medida que são apresentadas em forma de capacitação, fontes alternativas de subsistência à tradicional produção agrícola e extrativista usual na região Amazônica para a valorização do patrimônio natural da região.
O mapeamento de ninhos na Amazônia, em muitos casos trouxe surpresas, pois ao se chegar na base de uma árvore com ninho, identificou-se que não se tratava de um ninho de gavião-real (Harpia harpyja), mas de um uiraçu-falso (Morphnus guianensis) ou de um gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), sendo que os registros de uiraçu-falso e do gavião-de-penacho na natureza são tão raros quantos os do gavião-real. Nestes casos, o Programa adotou estas outras águias de grande porte do Brasil e o monitoramento hoje atinge seis ninhos de uiraçu-falso e seis de gavião-de-penacho.